Publicação coletiva para o Viva Bem Uol (leia na íntegra: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/07/19/esquistossomose-medular.htm)
Popularmente conhecida no Brasil como "xistose", "barriga d'água" ou "doença dos caramujos", a esquistossomose é uma doença parasitária e tem ligação direta com o saneamento básico precário. Está diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores da Schistosoma mansoni.
Considerada uma das formas mais perigosas da doença, a esquistossomose medular pode comprimir a medula, cone medular e cauda equina, causando sintomas neurológicos que são decorrentes dos ovos produzidos pelo parasita, que podem se alojar no cérebro, medula e nervos, causando uma intensa reação inflamatória que leva à lesão destas estruturas.
A medula é um tecido líquido que ocupa o interior dos ossos, é considerada a fábrica do sangue.
Os locais mais afetados são Oriente Médio, África Subsaariana, Caribe e Brasil. No Brasil, os locais de maior incidência no Brasil são as regiões Nordeste e Sudeste.
Estima-se que cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença, sendo sua apresentação medular uma das formas mais raras, estimada em 2% dos casos no Brasil.
Fatores para contaminação:
- Existência do caramujo transmissor
- Contato com a água contaminada
- Fazer tarefas domésticas em águas contaminadas, como lavar roupas
- Morar em região onde há falta de saneamento básico
- Morar em regiões onde não há água potável
Segundo o Ministério da Saúde, a transmissão da doença acontece quando o indivíduo infectado elimina os ovos do verme por meio das fezes humanas. Em contato com a água, os ovos liberam larvas que infectam os caramujos, hospedeiros intermediários que vivem nas águas doces. Após quatro semanas, as larvas abandonam o caramujo e ficam livres nas águas naturais. O ser humano adquire a doença pelo contato com essas águas, ao sofrer penetração ativa das larvas através da pele, normalmente na região dos pés e pernas. O parasita penetra na pele humana atingindo a corrente sanguínea, migrando para o fígado, intestino e outros órgãos.
Sintomas
Os primeiros sintomas a partir da infecção ocorrem em cerca de duas a seis semanas. O sintoma mais comum é a queimação e dor na região lombar com irradiação para as pernas. Com o tempo e evolução do quadro do paciente, pode apresentar perda de controle de urina e fezes, além da diminuição na força muscular ou, nos casos ainda mais avançados, a paralisia nas pernas.
Na esquistossomose medular, o início do quadro clínico pode variar de semanas até anos após o contato inicial do paciente com a água infectada, dificultando ainda mais o diagnóstico. É considerado um problema de saúde pública devido a severidade dos sintomas e sua evolução.
Diagnóstico e tratamento O diagnóstico é feito através de exames de fezes e de sangue que permitem diagnosticar a presença inicial do parasita. A ressonância magnética da medula espinhal vai demonstrar a lesão inflamatória. A cirurgia é indicada para pacientes com paraplegia aguda e, para os que apresentam piora clínica, a despeito do tratamento medicamentoso ou demora no diagnótico. Os procedimentos se limitam à descompressão, biópsia e liberação de raízes nervosas. Segundo os especialistas, cerca de 95% dos pacientes com esquistossomose medular que não recebem tratamento morrem ou não apresentam melhora clínica.
Mitos sobre a esquistossomose medular
1. Posso pegar esquistossomose medular tocando ou cuidando de quem teve esquistossomose.
A esquistossomose é adquirida pelo contato da pele com as larvas do Schistosoma, as cercárias, geralmente presente em ambientes com água e caramujos (no Brasil, são os do gênero Biomphalaria spp.). Tocar nas pessoas que tiveram ou têm esquistossomose não o coloca em risco de pegar a doença.
2. Somente pessoas que moram em áreas endêmicas estão sob risco de pegar a esquistossomose.
Viajantes comumente se aventuram em atrações naturais de lagos e riachos onde é possível haver a contaminação. Trabalhadores de águas como pescadores, agricultores e irrigadores também são esporadicamente designados a trabalhar em áreas de risco. Por isso é essencial observar se as águas são próprias para o banho e se não há caramujos por perto.
3. Qualquer caramujo pode transmitir a esquistossomose.
É necessário haver espécies específicas de caramujos (no Brasil o mais comum é o da espécie Biomphalaria spp.), que acabam servindo de hospedeiros intermediários para as larvas do Schistosoma sp —as cercárias. Outras espécies de caramujo não possuem relação com o parasita.
4. Por ser crônica, a esquistossomose medular só se manifesta em adultos.
Crianças também são acometidas pela doença. O tempo para a manifestação depende da quantidade de parasitas ingeridos e de ovos produzidos e alocados próximos ou na medula.
5. A esquistossomose medular é rápida de tratar.
Apesar do tratamento da esquistossomose medular ser inicialmente rápido, com medicações, frequentemente é preciso semanas de fisioterapia e reabilitação para recuperar algumas funções motoras e sensitivas —e a possibilidade de sequelas permanecerem é maior em casos em que não foi possível iniciar a terapia de forma precoce
Fontes: Ricardo Meirelles, chefe do Centro de Doenças da Coluna do Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), no Rio de Janeiro; Diego Guedes, infectologista e médico responsável pelo ambulatório de medicina tropical da UPE (Universidade de Pernambuco), no Recife; Natanael Adiwardana, infectologista do Hospital São Luiz Itaim (SP) e fellowship em controle de infecções hospitalares pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas; Silvio Bertini, médico coordenador do controle de infecção do Hospital Japonês Santa Cruz, em São Paulo; Antonio Krieger, cirurgião ortopédico do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba; e Guilherme Rossani, especialista em neurocirurgia. Referências: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/e/esquistossomose.